sábado, 10 de novembro de 2012

Sistema de saúde pública de Vitória da Conquista - PARTE II


Para quem não leu a primeira parte é só clicar aqui.


No dia seguinte (05/11), decidimos insistir para que o meu sogro recebesse atendimento. Minha mãe ligou para o SAMU 192 que a princípio relutou em despachar uma ambulância para minha casa. A ambulância chegou, fomos muito bem atendidos pelos paramédicos. Demos entrada no HGVC pela manhã. Por termos chegado de ambulância, o atendimento foi um pouco mais rápido do que na noite anterior.
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Enquanto eu fazia a ficha do paciente, os paramédicos encaminhavam o meu sogro para receber o atendimento. Após eu preencher a ficha, entrei na sala do médico onde o meu sogro estava sendo atendido. O médico (que falava alto e gritava exibindo uma bela falta de educação) aferiu a pressão arterial do meu sogro e pediu para ele movimentar os membros que ele havia perdido a sensibilidade. Após os exames, o médico solicitou uma tomografia e o encaminhou para ser medicado. Pensei que o presente dia seria diferente do anterior, mas eu estava enganado, meu sogro recebeu a medicação sentado no mesmo banco de madeira onde o soro ficava preso na parede com esparadrapo.
Com o pedido da tomografia em mãos, circulei por entre as macas nos corredores em busca de informações sobre como realizar o exame no HGVC. Procurei a ala masculina da enfermaria (o nome “ala masculina” era mera formalidade, pois homens e mulheres estavam amontoados nos mesmos corredores) para marcar o horário do exame. Com muita falta de educação eu fui recebido com um grito de uma das enfermeiras “A TOMOGRAFIA TÁ QUEBRADA!”. Perguntei qual seria o procedimento, pois o médico havia solicitado o exame e o paciente precisava do diagnóstico para iniciar o tratamento. Com rispidez a enfermeira disse para eu procurar a coordenação do hospital para ver o que poderia ser feito.

O nosso objetivo ao levar o meu sogro novamente ao HGVC era conseguir que ele fosse internado, pois dessa maneira seria “mais fácil” realizar os exames e o tratamento. Pensando nisso, procurei informações sobre como interna-lo. Fui até o setor de internamento onde pela primeira vez fui bem recebido naquele hospital. A senhora que me recebeu me deu várias informações sobre quem procurar na coordenação para conseguir a tomografia. Perguntei a ela como conseguir uma maca para o meu sogro. Ele me disse para procurar o maqueiro que ele providenciaria. Em poucos instantes o maqueiro entrou na sala repetindo o bordão do hospital “A tomografia tá quebrada!”. E depois complementou “Por que o hospital o aceitou? Tinha que ter ido era pro São Vicente, aqui não podemos fazer nada por ele!”. Em resposta eu disse que já havíamos passador por 3 hospitais, inclusive o São Vicente e em nenhum deles ele recebeu atendimento.

Após “internar” o meu sogro (internar formalmente, pois ele continuava sentado no banco de madeira) fui até a coordenação para tentar conseguir a tomografia dele. Procurei a pessoa indicada pela senhora do internamento. A moça me recebeu bem, disse que realmente a tomografia do HGVC estava quebrada, mas que ela iria conversar com a direção do hospital para tentar encaminha-lo para o SAMUR e que não pagaríamos pelo exame.

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Voltei para emergência e passei as informações para o meu sogro e minha noiva que fazia companhia para ele. Depois disso, fui juntamente com a minha noiva procurar uma maca. Depois de muita insistência e muita luta eu conseguimos uma maca. Perguntei ao maqueiro se ele havia desinfetado a maca. Ele disse que sim, mas eu não confiei. Pedi um lençol para ele e ele disse que não tinha. Como assim um hospital não tem um lençol? Ele falou que ia tentar conseguir e não voltou mais. Fiquei no corredor com a minha noiva segurando a maca (se deixasse solta provavelmente alguém iria pegar) esperando esse lençol aparecer. Enquanto estávamos no corredor, várias pessoas transitavam de um lado para e muitas pessoas tocavam na maca, pois o corredor era apertado. O maqueiro reapareceu sem o lençol e eu pedir para que ele higienizasse a maca. Ele disse que não tinha álcool. Isso mesmo, um hospital responsável por atender várias cidades da região não tinha álcool! Cansado de esperar pela má vontade dos outros, pedi um pouco de álcool numa sala onde ficavam os medicamentos. Uma mulher me deu num copo descartável, juntamente com uns guardanapos descartáveis. Pedi luvas a ela, mas ele disse que não tinha. Minha noiva foi até a enfermaria e conseguiu um par. Então nós higienizamos a maca.

Após limparmos a maca, tinhas que conseguir um lençol. Enquanto eu tomava conta da maca, minha noiva rodou o hospital inteiro e finalmente voltou com um lençol. Isso só reforça que os funcionários não tem um pingo de vontade de atender bem aos pacientes que estão lá. Negavam-se a trazer coisas básicas dizendo que essas coisas estavam em falta. Depois de toda essa luta, finalmente o meu sogro iria sair do banco de madeira que ele estava sentado ha horas. Durante essas horas que se passarem o soro no braço dele acabou. Falamos com várias enfermeiras, mas NINGUÉM se prontificou a retirar o soro do braço dele. Simplesmente jogavam a responsabilidade para outras pessoas. 

“Acomodamos” o meu sogro em um corredor mais amplo e que tinha um pouco de ventilação. Várias vezes eu retornei a coordenação do hospital para perguntar sobre a tomografia e a moça que havia conversado comigo anteriormente me disse que a diretoria estava em reunião e que assim que a reunião terminasse, ela me daria uma resposta.

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Após algumas horas retornei a coordenação e moça me disse que haviam consertado a tomografia e que eu só precisava do pedido do exame. Fui correndo para a enfermaria, pois lá é que estava o prontuário do meu sogro. Encontrei-me com a moça que havia me atendido mal um pouco mais cedo e ela não se intimidou em demonstrar como era completamente despreparada para atender ao público. Com um show de arrogância ela me disse que não haviam consertado nada e que eu deveria esperar! Em seguida pegou uma pilha de papeis e me mostrou dizendo: “Tá vendo isso aqui? Isso tudo é tomografia que a gente tem que fazer! A máquina tá quebrada! Se consertarem eu te chamo!”. Retornei a coordenação e a moça me disse que só estavam fazendo alguns testes no tomógrafo e que em breve estaria tudo pronto.

Enquanto isso eu aguardei. Retornei algumas vezes na enfermaria e insisti para que as enfermeiras fossem aferir a pressão do meu sogro e que fossem verificar o soro que há horas já estava vazio e tudo que eu ouvia era “Daqui a pouco eu vou lá, agora estou ocupada”, só que ninguém ia. Numa dessas idas a enfermaria, apareceu um enfermeiro dizendo “O tomógrafo foi consertado!”. Mas a outra enfermeira ignorante que estava na enfermaria relutou com todas as forças para não passar a informação adiante. Com ódio no olhar ela dizia “Não foi consertado não! Eu liguei pra lá agora e disseram que não estava pronto!” e o colega dela dizendo que já estava tudo ok. Pedi o pedido da tomografia do meu sogro e ela não quis me dar. Retornei a coordenação e falei que a enfermeira estava se negado a me dar o pedido da tomografia alegando que o tomógrafo estava quebrado, mas a própria coordenação havia me dito antes que haviam consertado e o colega dela dizia o mesmo. Foi preciso uma pessoa sair de lá da coordenação e me acompanhar na enfermaria para que enfermeira me desse o pedido da tomografia.


Vencida mais uma batalha e com todos os papeis em mãos, levei a maca do meu sogro para a porta da tomografia, mas os técnicos haviam saído para o almoço. E por falar em almoço, eu tive que brigar com a moça que passava com o carrinho de comida no corredor para que ela desse a comida para o meu sogro.  Aguardamos por quase 1hr até que o técnico apareceu, entrei junto com o meu sogro e finalmente ele fez a tomografia. Peguei o resultado e fui atrás do médico.

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No meio do caminho uma pessoa observou que a maca do meu sogro estava ponto de quebrar. E aí começou outra luta para conseguir trocar a maca. Quando eu procurei o maqueiro ele me disse com rispidez: “Eu já não arrumei uma maca pra você? É o que que você quer?” Respondi que a maca estava ponto de quebrar e que o meu sogro estava sentado num cadeira no corredor e com a cabeça escorada na maca. Ele me respondeu: “Meu filho, maca aqui nesse hospital é que nem ouro! Não tem como eu arrumar outra pra você não. Só se alguém tiver alta.” Indignado com a situação eu retornei ao corredor e fiquei de olho pra ver alguém recebia alta para eu poder trocar a maca. E durante o longo tempo de espera, o meu sogro ficou sentado no corredor com o soro vazio, sem saber se a pressão dele tinha diminuído, com o um vidro de soro vazio seguro em uma mão e uma agulha espetada no outro braço.

Enquanto não aparecia uma maca eu fui atrás de médico para ver o resultado da tomografia. A partir daí começou um jogo de ping pong entre os médicos onde o meu sogro era bola. Com muito trabalho, mostrei a tomografia para o clínico geral de plantão e ele me encaminhou pra o neurologista. O neurologista demorou horas para aparecer no hospital (felizmente durante esse longo tempo de espera eu consegui outra maca). O Neurologista olhou a tomografia e disse que o meu sogro teve um AVC isquêmico e que não era a área dele, pois ele era neurocirurgião. Dito isso ele o encaminhou novamente para o clico geral. Fiquei pensando comigo mesmo “Como é que um cara que é capaz de abrir um crânio de uma pessoa viva, retirar um tumor do meio do cérebro, fechar o crânio e fazer com que a pessoa restaure a saúde, não é capaz de indicar um tratamento para um AVC isquêmico?”. Como eu não sou da área de saúde, fui atrás do clínico novamente para saber qual o procedimento deveria ser tomado. Procurei-o durante muito tempo, mas não o encontrei. O tempo passou e a minha sogra chegou ao hospital para passar a noite com o meu sogro. Me despedi deles e fui para casa descansar.

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